A pedregosa luz da poesia ou a estética da ruína em Carlos de Oliveira
DOI:
https://doi.org/10.51427/com.est.2023.02.02.0002Palavras-chave:
ruína; fragmento; paisagem; fogo; Carlos de OliveiraResumo
Carlos de Oliveira fez da paisagem de sua infância, a Gândara portuguesa, o seu universo literário, escrevendo-a, descrevendo-a e repovoando-a incessantemente em sua obra. Diante de uma paisagem em constante ruína, memória e símbolo de um país, percebe-se, a partir do lançamento de Cantata (1960), um espelhamento radical dessa paisagem em sua obra. Partindo das ideias de Michel Collot a respeito da paisagem e de sua interação com o sujeito lírico e dos conceitos de estética da ruína em Sophie Lacroix, pretendo ensaiar uma análise de dois poemas do poeta português — “Soneto” de Cantata (1960) e “Casa” de Sobre o Lado Esquerdo (1968). Buscarei ressaltar, principalmente, a função dialética do fogo e da luz como construtores e destruidores de realidades, além da íntima aproximação desses elementos com a linguagem realizada pelo autor. Num processo de “espaçamento do sujeito”, Oliveira compreende o fim do mundo diário da Gândara e de suas casas como uma linguagem primordial para entender a realidade em suas múltiplas possibilidades, principalmente na falta, e promove uma “estética do fragmento” em sua literatura, propondo fraturas formais e diluindo contornos entre sujeito, paisagem e poesia.
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