Iris Murdoch: das sombras à luz
DOI:
https://doi.org/10.51427/com.est.2023.02.02.0004Palavras-chave:
Iris Murdoch, Atenção, The Bell, A Severed Head, LuzResumo
Neste ensaio, defendo que a imagem da luz é muito significativa na obra filosófica e literária de Iris Murdoch, e exploro as suas potencialidades, bem como as suas limitações. Estabeleço uma ligação entre dois romances de Iris Murdoch e suas ideias filosóficas, fazendo referência à sua obra filosófica como um todo. The Bell (1958) e A Severed Head (1961) representam respectivamente, na minha leitura, uma transição das sombras para a luz, sendo que o segundo romance reproduz de forma muito directa a alegoria da caverna de Platão. Nesta transição, a capacidade moral do auto-descentramento (unselfing) e da atenção particular ao indivíduo – ideias-chave do trabalho filosófico de Murdoch – são postas em causa. Ao atingir o estado de “iluminação”, alcança-se o que Murdoch entende ser o amor, um estado de verdade onde habita a bondade, e o exercício da atenção (como forma de auto-descentramento, inspirado na concepção de Simone Weil) é indispensável. Defendo que The Bell mostra a impossibilidade de alcançar esse estado, enquanto A Severed Head idealiza, pelo contrário, essa possibilidade. Ao longo do caminho iremos notar algumas ideias murdochianas sobre as relações entre arte, filosofia e moral, nomeadamente que os seus romances questionam as suas próprias ideias filosóficas, em vez de apenas ilustrá-las; a irrelevância das fronteiras entre vida externa e interna; e como o trabalho de Murdoch beneficia de algumas ideias aristotélicas, principalmente uma concepção de como aprendemos a ser virtuosos.
Referências
Aristóteles. 1985. Nicomachean Ethics. Tradução de T. Irwin. Indianapolis: Hackett.
Aristóteles. 1987. The Poetics, traduzido e comentado por S. Halliwell. Londres: Duckworth.
Aristóteles. 1932. Aristotle in 23 Volumes, Vol. 23, traduzido por W.H. Fyfe. Cambridge, MA, Harvard University Press; Londres, William Heinemann Ltd.
Atwell, John. 1978. “Review: The Fire and the Sun: Why Plato Banished the Artists.” The Journal of Aesthetics and Art Criticism 36 (4): 490-493.
Baldanza, Frank. 1973. “The Manuscript of Iris Murdoch’s A Severed Head.” Journal of Modern Literature 3 (1): 75-90.
Bloom, Harold. 1986. “A Comedy of Worldly Salvation.” The New York Times. https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/books/98/12/20/specials/murdoch-apprentice.html.
Giffin, Michael. 2007. “Framing the Human Condition: The Existential Dilemma in Iris Murdoch’s The Belland Muriel Spark’s Robinson.” The Heythrop Journal 48 (5): 713-741.
Melo Araújo, Sofia. 2016. Ética e Literatura: Um Estudo dos Romances de Iris Murdoch (1958-1970). Porto: CITCEM.
Maurí, Margarita. 2008. “Iris Murdoch on Virtue.” Telos. http://www.telospress.com/iris-murdoch-on-virtue/.
Murdoch, Iris. 1961. A Severed Head. Londres: Chatto and Windus.
Murdoch, Iris. (1997) 1999. Existentialists and Mystics. Nova Iorque: Penguin.
Murdoch, Iris. 1992. Metaphysics as a Guide to Morals. London: Penguin.
Murdoch, Iris. (1958) 2001. The Bell. London: Penguin.
Murdoch, Iris. 1953. Sartre,The Romantic Rationalist. Cambridge: Bowes and Bowes.
MacIntyre, Alasdair. 1982.“Good for Nothing – Review of Iris Murdoch: Work for the Spirit by Elizabeth Dipple.” London Review of Books: 15-16.
Nussbaum, Martha C. 2001. “When She Was Good”. The New Republic Online, 31 de Dezembro. http://www.tnr.com/article/when-she-was-good.
Nussbaum, Martha C. (1986) 2013. “Luck and the Tragic Emotions.” In The Fragility of Goodness. Cambridge: Cambridge University Press.
Platão. 1969. Republic in Plato in Twelve Volumes, Vols. 5 & 6, traduzido por Paul Shorey. Cambridge, MA, Harvard University Press.
Ribeiro Ferreira, Maria Luísa. 2003.“Iris Murdoch, filósofa e romancista.” Revista ex aequo 9: 55-67.
Richardson Lear, Gabriel. 2004. Happy Lives and The Highest Good: An Essay on Aristotle’s Nicomachean Ethics. Princeton: Princeton University Press.
Weil, Simone. (1942) 2009. “Reflections on the Right Use of School Studies with a View to the Love of God.” In Waiting for God, 57–65. London: HarperCollins.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2023 Pedro Franco
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
A estrema disponibiliza todos os seus números em acesso aberto. Os autores retêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação dos seus textos, de acordo com o estipulado pela licença Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0). Esta licença permite que terceiros partilhem o trabalho, desde que seja dada a devida atribuição de autoria e referência à publicação original nesta revista.